Fraude que usava Ratinho traz uma nova preocupação para os que estudam falsificações
No início do mês de fevereiro, o apresentador Ratinho foi vítima de fraude envolvendo sua imagem. Na ocasião, ele teve seu rosto e voz manipulados por uma Inteligência Artificial (IA), e supostamente anunciava a necessidade de realizar o “Resgate da Prosperidade”, um programa que não existe e servia para a aplicação de golpes em pessoas desavisadas.
O perigo do avanço das IAs vem sendo notado nos últimos anos. Até pouco tempo atrás, muitas imagens feitas pelas máquinas eram fáceis de serem notadas, mas a verossimilhança das informações contidas nos vídeos está passando por melhorias em alta velocidade, o que significa que as maneiras de identificar se o conteúdo é verdadeiro ou não estão ficando mais escassas e necessitam de maior aprimoramento.
A melhor área profissional para tratar desse assunto é a da Documentoscopia, que tem como objetivo a análise de documentos para a busca de irregularidades. A área em si ajuda muito a justiça, tendo muito contato com processos. Por isso, é comum entender que os profissionais estejam aptos a trabalhar com o exame de assinaturas, selos, tipo de máquina na qual o documento foi feito ou mesmo o tipo de papel.
Entretanto, como afirma o advogado, especialista e professor da Jus Expert, Dr. Gleibe Pretti, “Fotos também são uma espécie de documento. Dessa forma, como os vídeos nada mais são do que um conjunto de fotos (frames), a depender da taxa de frames presentes nas configurações, eles também se encaixam nessa nomenclatura. Portanto, o ocorrido com o Ratinho pode, sim, ser analisado por um perito em documentoscopia, desde que ele tenha especialidade em analisar arquivos digitais, para poder encontrar inconsistências no material que for apresentado e identificar sua veracidade ou não”.
Como Pretti aponta, por mais que haja uma demora na verificação, pela dependência da quantidade de quadros, é possível estudar todas as fotos que foram feitas para que o vídeo seja apresentado. Por muito tempo, a quantidade de frames padrão por segundo variava entre 24 e 30, como ainda é visto em filmes e séries de televisão. Porém, já faz um tempo em que a possibilidade de 60 quadros é vista em algumas produções, principalmente on-line.
Quanto maior o número de frames, maior a fluidez do vídeo. Além disso, para leigos no assunto, isso permite que pequenas discrepâncias entre o que foi apresentado e a realidade não sejam notadas. Mesmo olhos treinados podem sentir dificuldade com o estágio das Inteligências Artificiais usadas atualmente, por mais que ainda seja possível ver a olho nu.
“O maior perigo em usar esse tipo de manipulação nem está em casos como o do Ratinho. A ideia desse golpe foi o ganho financeiro que seria possível ao enganar as pessoas, usando a autoridade do apresentador para dar um ar de veracidade à informação. Porém, em momentos mais importantes esse tipo de manipulação pode ser ainda mais perigoso, devido a eventos que podem mudar completamente o futuro das pessoas, como as eleições. As manobras feitas por adversários políticos podem causar ainda mais caos nas informações, principalmente com a velocidade da troca de dados que as redes sociais apresentam”, explica Pretti.
Como o Brasil passa pelas eleições a cada dois anos, essas manobras podem trazer muitos malefícios para a população, como entendimentos errados sobre candidatos, posições oficiais e políticas planejadas. Com isso, é importante que a noção de que cada informação importante pode ser falsa ou manipulada por alguém esteja afiada na mente dos eleitores.
De acordo com Pretti, esse momento, por sempre ser crucial, deve ligar o alerta de todos, principalmente dos peritos em documentoscopia, pela novidade de lidar com fraudes cometidas por computadores e suas IAs.